Surto de Dengue em Viçosa: autoridades se manifestam sobre formas de prevenção e tratamento

Repórteres: Laura Beatriz e Robert Rodrigues, estudantes de Jornalismo da UFV

Fluxograma do manejo clínico do paciente com dengue do Hospital São João Batista (HSJB) criado por Paula Balbino

A dengue é uma doença febril aguda causada por um vírus, sendo um dos principais problemas de saúde pública no mundo. É transmitida pelo mosquito Aedes aegypti, que se desenvolve em áreas tropicais e subtropicais. Recentemente, em Viçosa, um surto dessa doença foi diagnosticado, desde então, as autoridades responsáveis vêm fazendo um trabalho para diagnosticar e tratar os pacientes com dengue. A Enfermeira Paula Coelho Balbino do Hospital São João Batista (HSJB) cedeu uma entrevista para falar um pouco sobre a dengue e as medidas do HSJB em relação à doença, como o atendimento, que em alguns casos, pode ser desagradavelmente demorado, medicações usadas no tratamento e contraindicadas também, o tratamento em si, que não se tem muito o que fazer, a não ser tratar os sintomas, entre outras discussões. Também conversamos com Ronilson da Silva Vieira, Diretor da Vigilância Epidemiológica na Secretaria de Saúde em Viçosa, sobre a atuação da vigilância no município e quais medidas têm sido tomadas para o controle da epidemia, de qual forma tem sido alertada a população e o que fazer em casos de suspeitas, também mostrou de que forma a população pode trabalhar junto com o poder público nas limpezas de casas e retirada dos focos da dengue.

Robert Rodrigues: A dengue tem crescido muito novamente em várias cidades. Como o hospital está lidando com esse surto na cidade?

Paula Balbino: Infelizmente, o governo não envia para a gente o teste NS1, que é um exame rápido da dengue, não conseguimos fazer ele aqui no hospital. O paciente que chega com os sintomas da Dengue, cefaleia (dor de cabeça intensa), dor retroorbitrária (dor em volta dos olhos), mialgia (dores musculares), artralgia (dores nas articulações), já consegue falar que pode ser dengue pelos sintomas, mas precisaria do exame que não temos. A gente vai tratar os sintomas e então, a gente encaminha o paciente para o Estratégia Saúde da Família (ESF) e de lá será encaminhado para o Consórcio Intermunicipal de Saúde da Microrregião de Viçosa (CISMIV), e lá que irão fazer o exame da dengue. Os pacientes têm sofrido e a gente concorda e estamos correndo atrás para ver se conseguimos achar uma melhor forma de lidar com isso.

RR: Qual a função do SCIH com relação a dengue?

PB: O Serviço de Controle de Infecção Hospitalar (SCIH) é composto por mim(enfermeira), a médica e a técnica de enfermagem. SCIH trabalha em conjunto com a Vigilância Epidemiológica. Todos os casos de surtos, doenças de notificação compulsória, são necessários serem notificados para a Vigilância rapidamente. Portanto, o paciente chega e a ficha é preenchida no ambulatório (pronto atendimento) e é enviado para o SCIH, depois enviamos para a Vigilância, para eles irem atrás desses bairros que estão com focos para poderem fazer os controles de vetores. É essa a nossa função. Com esse surto de dengue, toda hora está chegando ficha para a gente, a Técnica de Enfermagem sempre vai ao ambulatório para pegar as fichas novas e enviar para a Vigilância Epidemiológica.

RR: A demanda de pacientes aumentou muito nessas últimas semanas?


PB: Aumentou bastante nos últimos dias, tem dia que a gente pega 10 fichas e isso é muito. Antes, era uma ficha no máximo e não era nem por dia, as vezes, uma a cada três/dois dias.

RR: É burocrático o atendimento ou qualquer que chega aqui consegue ser atendido?

PB: Infelizmente, chega a ser burocrático sim, pela demanda ter aumentado e não é só de dengue, mudança de climas e outros fatores, tudo aumentou nesses últimos dias. O atendimento que é emergência passa na frente. Teoricamente, os sintomas de início da dengue não são urgentes, mas devem ser tratados logo, para não evoluir para uma emergência. O paciente já poderia ir direto para o ESF e não vir ao hospital. Os pacientes que vem para cá com urgência seriam tratados mais rápidos. Acaba superlotando o hospital com pacientes de baixo sintomas e eles reclamam bastante por causa das horas de demora de atendimento e a gente entende. O que também pode se tornar um problema são os resultados de exames. O NS1 não temos, mas é possível fazer um hemograma, para saber se a plaqueta está baixa (em casos de dengue, a plaqueta abaixa) e esses resultados, as vezes, demoram a sair. Fora isso, todos estão sendo atendidos, o problema mesmo é a demora.

RR: Em cidades maiores, existem campanhas/barracas que fazem o exame instantâneo. Em Viçosa não seria necessário?

PB: Com certeza!!! Se eu não me engano, acredito que ano passado eles fizeram, eram tantos casos que eles chegaram a montar uma barraca com um local em que todos podiam chegar e fazer o exame. Eu vou conversar com o coordenador da Vigilância Epidemiológica, se eles não pensam nessa situação. No momento, eu não posso te falar nada, eu concordo que deveria ter. Não sei o que eles estão pensando em fazer, mas posso sugerir isso também.

RR: Para reforçar, quais são os tratamentos dos sintomas quando os pacientes chegam aqui?

PB: A reidratação venosa: soro, se estiver com dor: um analgésico, se estiver com febre: um antipirético, entre outros.

RR: Quais são os principais medicamentos contraindicados em casos de suspeitas de dengue?

PB: Benegrip, Engov, Sonrisal, Melhoral, o uso de paracetamol concomitantemente pode agravar a hemorragia em casos de dengue hemorrágica, anti-inflamatórios não são recomendados e medicamentos à base de corticoides.

Laura Beatriz: Gostaríamos que o senhor falasse um pouco sobre o Setor de Epidemiologia e sua atuação em Viçosa.

Ronilson Vieira: Eu estou hoje na coordenação do setor de epidemiologia em Viçosa e ela tem o papel de tentar detectar e minimizar riscos de saúde pública, surtos, enfim. A gente faz o monitoramento das doenças e dos agraves de notificação compulsória e a gente trabalha diretamente com os hospitais e todas as unidades notificantes do município como as unidades PSF, por exemplo, hospitais, divisão de saúde, são setores que notificam para nós os agraves que vêm ocorrendo no município. A gente tá em alta hoje com a Dengue e tem suspeitas de Dengue e Chikungunya chegando a todo momento, mas o ano inteiro a gente trabalha nessas questões tentando evitar surtos de epidemias no município, ou minimizar os casos e riscos, a gente não trabalha com o indivíduo, mas sim com a coletividade.

LB: E é mais a pesquisa ou também o tratamento?

RV: O tratamento não, a gente retém a informação como um todo de todas as unidades do município e isso faz com que a gente ajude a gestão a tomar as medidas certas, é como se fosse um serviço de inteligência.


LB: No último ano teve algum episódio de maior surto?

RV: No último ano tivemos um surto de DTA (Doenças transmitidas por alimentos) mas não teve nenhum episódio de surto intenso, dengue foi bem tranquilo, esse ano já detectamos mais casos do que o ano passado inteiro.

LB: Bom, eu sou moradora de Viçosa e vejo as ações de limpeza nas casas, mesmo assim ainda temos muitos casos.

RV: O que acontece é que a população tem a falsa ilusão de que só deve preocupar no período de chuva, acaba o período e volta a deixar por exemplo calhas entupidas, onde a fêmea já depositou ovos, a população tem que ser ativa nesse processo, somente o poder público não vai conseguir resolver o problema, a população tem que ser ativa e fazer a limpeza, se você tirar 10 minutos da sua semana consegue resolver. A gente tem 237 notificados, 103 confirmados e 79 possíveis casos.


LB: Em Viçosa, existe algum lugar que a gente consiga ser atendido mais rápido em caso de suspeita da Dengue?

RV: É importante deixar claro para a população que todo caso de suspeita ele vai procurar o PSF, somente em casos graves deve procurar o hospital, nos outros deve ir no PSF onde o médico vai receitar os medicamentos para tratamento dos sintomas, já que a dengue não tem tratamento, o resultado do exame serve simplesmente pra registrar que você teve dengue. E estão sendo montados postos de hidratação para a comunidade.

Deixe um comentário