Ativista explica relevância do símbolo mundial do autismo e dificuldades enfrentadas

Repórteres: Beatriz Fonseca e Maianna Medeiros, estudantes de Jornalismo da UFV – Contato: beatriz.maena@ufv.br e maianna.vitorino@ufv.br

Foto detalhe: Dilermando Duarte discursa durante Tribuna Livre na Câmara Municipal (Créditos: Maianna Medeiros; Google)

O cidadão Dilermando Duarte do Carmo falou durante a reunião da Câmara Municipal, na última terça-feira, 14/05, sobre a importância da obrigatoriedade da inserção do Símbolo Mundial do Autismo nas placas de atendimento prioritários. Com a implantação dessa lei, pessoas com TEA (Transtorno do Espectro Autista) teriam direito resguardado para usarem filas e locais para atendimento especial, o que já é um benefício aplicado para gestantes, idosos, deficientes físicos e pessoas acompanhadas por crianças de colo.

Essa lei já é obrigatória em diversos outros municípios brasileiros e agora chega à Viçosa através do projeto de lei nº 022/2019, apresentado pelo vereador Idelmino Ronivon da Silva.

Dilermando Duarte conhece bem as alegrias e adversidades que é ser pai de uma criança com sinais de Transtorno do Espectro Autista. Em entrevista, o ativista falou sobre o Transtorno, suas dificuldades e expansão; o projeto de lei e suas melhorias; sobre seu papel de pai e também sobre o preconceito ainda existente tanto na sociedade quanto dentro das próprias famílias. 

A fita com estampa de quebra cabeça foi adotada em 1999 como sinal universal da conscientização sobre o autismo, sendo ela o símbolo usado nas placas de atendimento. A diversidade de cores não é aleatória, representa uma esperança tanto nos tratamentos quanto no acolhimento dos portadores pela sociedade. Logo, a utilização da fita indica não apenas uma fila, mas que pessoas com TEA são bem-vindas em determinado local.

Repórter Maianna Medeiros: Fale um pouco sobre o TEA.

Dilermando Duarte do Carmo: Não é uma doença, é uma condição neurológica, a criança nasce autista. O Transtorno, é caracterizado basicamente por três pilares. O primeiro é a questão da interação social; o outro é a comunicação, alguns deles são verbais, outros nem tanto, e o terceiro é comportamental, ou seja, a questão das estereotipias, os sentidos estimulados; comportamentos restritos e estereotipados: são os movimentos e balanceios típicos dos autistas.

Repórter Beatriz Fonseca: Por que o interesse nessa área em específico?

DDC: Meu filho tem sinais de alerta para TEA. O diagnóstico só pode ser fechado com 2 ou 3 anos, então, até lá, ele tem que ser estimulado intensamente. Eu me considero um cara ativista. Gosto muito da área e tudo que puder fazer de melhor para ele, farei. Assim, corro atrás das terapias, mas também dos direitos dele.

MM: Qual é a experiência de ser pai de uma criança autista?

DDC: A melhor possível! Temos que entender que ela é uma criança como outra qualquer, seu único detalhe é o autismo. Essa condição a gente tem que trabalhar com ele, mas, no fim, ele vai fazer tudo que você fez, só vai demorar um tempo a mais para isso. Ele é uma criança tranquila, normal, quando digo normal quero dizer neurotípica. É super de boa. Claro, às vezes, existem os inconvenientes, as crises, mas tentamos lidar com isso da forma menos invasiva possível.

BF: Com uma criança nessas condições, já vivenciou a falta de assistência pela cidade de Viçosa?

DDC: O que mais se nota aqui na cidade é a questão das escolas estarem despreparadas para recebê-los. A inclusão escolar hoje é bem deficitada, é preocupante. Além disso, profissionais da área de Viçosa, apesar de estarem se capacitando mais, são ainda pouco preparados para recorremos. Faltam médicos para fazer um diagnóstico mais recente.

MM: Sendo uma condição tão frequente hoje em dia, por que ela ainda é tão negligenciada? Por que é tão invisível na nossa sociedade?

DDC: É um fenômeno muito recente. Antes o autismo era dividido em sete tipos de classificações. Em 2013, a Organização Mundial da Saúde englobou todos em um só, que é o TEA. Ou seja, falamos “autismo” apenas para facilitar o entendimento. Apesar da condição de autista ser um termo antigo, muitos estudos estão sendo realizados, coisas estão sendo descobertas e a mídia está se manifestando apenas agora.

MM: Por que que esses casos têm aumentado tanto?

DDC: Existem dois grandes fatores. Como já dito, antes havia diversas classificações, com a unificação delas, aumenta o número de casos. Outro fator é o aumento da capacitação dos médicos. Hoje, o diagnóstico é dado até os dois anos, antes esperava-se até os cinco. Esse adiantamento é bom por causa da existência de uma neuroplasticidade, o cérebro se desenvolve muito mais antes dos cinco anos.

BF: Quais seriam os benefícios da implantação do símbolo nas placas de atendimento prioritário? Onde exatamente eles seriam acrescentados?

DDC: A implantação amenizaria um pouco o sofrimento deles ao estarem num ambiente como o supermercado. A fila não é o problema, mas sim todo o processo de compras, que pode ocasionar uma descarga emocional muito grande e gerar uma crise. A criança até consegue ficar na fila, mas por estar tão sobrecarregada quer sair dali para ter mais experiências ou para simplesmente ficar longe daquela poluição de sentidos. Eles seriam acrescentados nos caixas preferenciais de toda cidade. Isso já ocorre em outras municípios, aqui também deveria ser uma lei municipal.

MM: Por que a demora para essa lei chegar em Viçosa?

DDC: Talvez porque seja um movimento novo. Ainda pouco se fala em autismo. Com o aumento dos números de diagnóstico, o assunto está sendo mais comentado. Por exemplo, aqui em Viçosa, eu fui a primeira pessoa a iniciar um projeto como esse.

MM: O senhor disse durante a Tribuna que os casos de autismo só tendem a aumentar. A sociedade, não só a de Viçosa, mas do Brasil em geral, está preparada para lidar cada vez mais com essas pessoas especiais?

DDC: Eu sou sempre otimista, acho que tudo tende a melhorar. Contanto que as pessoas falem, divulguem e deem a cara a tapa sem ter vergonha. Hoje mesmo, convidei vários pais, mães, divulguei em todos os grupos. Poucos vieram. Existe um medo de se expor. Mas continuo acreditando na conscientização. Os casos vão aumentar e logo serão algo normal. Chegará um momento em que existirão um para dois, eles não serão mais o diferente.

MM: Hoje em dia, ainda existe vergonha do TEA por parte dos pais e dos familiares?

DDC: Acho que, talvez, eles tenham medo de se rotular. Já li muitos relatos, em grupos de internet que participo, de mães que não foram convidadas para a festinha do filho na escola por ele ser autista, ter movimentos diferentes. Existe ainda essa forma de preconceito.

MM: Qual a melhor forma de lutar contra o preconceito em relação ao TEA?

DDC: Conscientizar. Temos que estimular as pessoas a, cada vez mais, lerem e conhecerem, buscando esclarecimento para suas dúvidas. Quanto mais se falar, mais se tornará normal.

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