Fachada da Associação dos Taxistas de Viçosa_Roberta Vicente

Associação de Taxistas diz que concorrência com motoristas aplicativos não é “correta”

Repórteres: Adrielle Mariana e Roberta Abreu, estudantes de Jornalismo (UFV) – Contato: adrielleandrade69@gmail.com e roberta.abreu3@gmail.com

Fachada da Associação dos Taxistas de Viçosa
Foto: Roberta Abreu

O atual presidente da Associação dos Taxistas de Viçosa (ATV), Wilton Andrade, na última quarta-feira (15), avaliou o serviço prestado pelos taxistas como bom, se posicionou quanto a presença feminina na profissão e revelou novas metas da ATV frente à concorrência. ††††††

Ele, além de ocupar o cargo, é um dos 83 taxistas que trabalham diariamente na cidade. Está na profissão há quatro anos e esse é o seu segundo mandato na presidência da Associação. Por muitos anos, esse serviço de mobilidade foi exclusivo dos taxistas na cidade. Porém, com a chegada do Livre (transporte por aplicativo), há aproximadamente um mês, essa realidade mudou. O responsável pelo Departamento Técnico e Operacional do aplicativo, Junior Gomes, conversou conosco por celular e esclareceu sobre o funcionamento do programa, falou sobre a segurança do passageiro e revelou a contribuição do Livre para com a economia da cidade.

Roberta Abreu: Qual o objetivo da Associação dos Taxistas de Viçosa?

Wilton Andrade: A Associação foi criada com intuito de organizar a logística dos táxis, como por exemplo a organização dos pontos e o cadastramento dos motoristas. Também para fortalecer a categoria junto à Prefeitura, pois nós somos o único órgão que representa os táxis em Viçosa.

RA: Os usuários têm procurado a Associação para reclamar?

WA: Sim. Nem todos os taxistas são associados, de 83 são associados 54. Aceitamos reclamações sobre os associados porque assim vamos tomar providências. Se não for, não podemos agir. Para esses casos existe o DIRETRAN (Diretoria de Trânsito), que serve tanto para reclamação de associados como de não associados. Se o motorista te tratou mal, te deixou no meio do caminho ou cobrou fora do taxímetro ligue para o DIRETRAN. Eles ou passam para nós ou resolvem eles mesmos. Só assim nós vamos conseguir melhorar o nosso serviço. Todo táxi em Viçosa tem cinco números escritos, os três primeiros números são de identificação e os dois últimos indicam o ponto que o carro pertence. É importante que o passageiro anote o número, isso facilita a identificação.

RA: Por que tem poucas mulheres em Viçosa na profissão de taxista?

WA: O serviço é muito perigoso. Elas ficam com medo. O taxista geralmente não sabe quem está entrando no carro; já tivemos vários assaltos a mulheres, teoricamente mais frágeis. O serviço é leve, é mais questão de segurança mesmo.

RA: Qual a maior dificuldade encontrada ao exercer a profissão em Viçosa?

WA: A maior dificuldade é a má qualidade das ruas, é muito desgastante para nós taxistas.

Adrielle Mariana: Considera justo o preço cobrado pelo taxímetro, visto que já se entra no táxi pagando R$5,02? Como esse valor é estipulado?

WA: O táxi é uma empresa pública, não é particular. Apesar de eu ser dono do meu carro, eu trabalho para a Prefeitura, um órgão público. O preço do táxi é calculado de acordo com um economista. Ele faz uma planilha de custos, que é apresentada à Prefeitura e passa pelo Conselho Municipal de Trânsito. A partir disso, terá uma comissão que votará para a aprovação desse valor. A questão da bandeirada inicial não é entendida por muitas pessoas. Vou dar um exemplo: eu estou em frente ao Bradesco e você me chama na pracinha de Fátima. Eu te busco e levo para a UFV. Da UFV, eu tenho que voltar para o meu ponto inicial.  Esse deslocamento final que tenho que fazer é o que diferencia de um Aplicativo. Por isso o preço do aplicativo é menor. Agora, esses R$5,02, no decorrer da corrida, vai sendo diluído. É cobrada a ida e a volta. O aplicativo você não paga a volta, justamente porque eles não têm que voltar para um ponto. Nós taxistas temos.

RA: Os taxistas, como qualquer pessoa, são alguns dos alvos dos bandidos. O que a Segurança Pública da cidade tem feito a fim de atenuar esse problema?

WA: Alguns de nossos táxis já tem câmera instalada, para a segurança do passageiro e também do taxista. Também temos um canal direto com a Polícia Militar, participamos de um grupo, então, qualquer eventualidade que tiver, já tem policial envolvido e a gente aciona bem rápido. Ainda assim é muito difícil de se combater esse problema, porque entra todo tipo de pessoa no carro e não dá para prever quando vai acontecer algo. Não é como uma casa que dá para colocar grade. A gente tenta, dá melhor maneira possível, dar um certo suporte aos motoristas e passageiros.

RA: A ATV está pretendendo lançar seu próprio aplicativo. Como será seu funcionamento? Já tem data para lançar?

WA: Nós lançamos um aplicativo da ATV em fevereiro, mas ele apresentou alguns erros e a gente o tirou do ar para refazê-lo. Esse trabalho está sendo feito e não temos uma data ainda para disponibilizar ele, porque depende dos programadores. Mas espero que seja em breve. Não adianta nada colocar um aplicativo no mercado que não atenda. Esse programa é mais complicado de ser feito, porque o táxi cobra pelo taxímetro, tem que fixar as bandeiradas… Sobre o funcionamento, inicialmente seria assim: você chama um táxi, ele liga o taxímetro e segue viagem. O aplicativo seria mais para chamar o motorista mesmo. Porém, com a chegada da concorrência, a gente acredita em lançar o aplicativo e rodar no táxi a preço do aplicativo de concorrência. E quando a pessoa chamar o taxista por meio de ligações, aí sim liga-se o taxímetro. Essa é a nossa expectativa.

AM: A população flutuante de Viçosa contribui para o aumento do lucro dos taxistas?

WA: Sim, muito. Não só dos taxistas, mas todos os setores. Pois esses estudantes de Viçosa correspondem com 30% a 40% do que Viçosa move e a cidade não vive sem a população flutuante. No final todo mundo ganha, por exemplo: as imobiliárias ganham alugando apartamentos, os taxistas ganham fazendo corridas… então, para Viçosa, é fundamental essa população.

AM: Em comparação aos anos anteriores, tem aumentado ou diminuído o número de passageiros?

WA: Mantém e não se modifica muito, porque a clientela do táxi é fixa e, de certa forma, linear.

RA: Esse programa da ATV ajudaria na competição com a nova concorrência. Vocês pensam em alguma outra forma para concorrer, de maneira mais equilibrada, com os transportes por aplicativo?

WA: Toda concorrência é bem-vinda e ela vem com o intuito de abrir seus olhos para melhorar os serviços prestados. Acredito que hoje os pensamentos dos taxistas vêm mudando muito, porque se tem a concorrência, ela está aí e precisamos fazer esse papel. Além do aplicativo, temos que nos posicionar de maneira adequada para atender o cliente, ser mais generoso, então o taxista tem que melhorar nesse sentido. Desde de que carro existe o serviço de táxi está presente, então, como veio essa concorrência, a cabeça muda por completo. Quando teve a licitação, todos os nossos taxistas tiveram que fazer um curso para aperfeiçoar os serviços, além das palestras de convivência interpessoal, com psicólogos. Assim, com a concorrência, as pessoas veem o que é importante, como abrir a porta para o passageiro, abrir o porta-malas e carregar a bagagem, cumprimentar com bom dia/boa tarde e essas mudanças precisam vir.

AM: Como avalia a qualidade do serviço prestado?

WA: Viçosa tem um público bem exigente, por melhor que você faça o serviço, ainda fica a dever. Porque o publico é muito jovem, são pessoas bem instruídas. Aqui os taxistas são bem vestidos, o carro é confortável, com ar condicionado e direção, carros bem pilotados e que foram exigidos pela Prefeitura. Então, avalio o serviço como bom, em vista do que a gente vê na região.

RA: Como funciona a licitação da Prefeitura?

WA: A licitação ocorreu em 2015, foi uma Lei Federal que nasceu com a Constituição de 1988, onde os municípios tinham que fazer as licitações das placas e, quem ganhasse, teria o direito de trabalhar. Nessa licitação foram feitas várias exigências para os taxistas, como por exemplo escolher o carro, a motorização… quanto mais coisas acrescentava, mais pontos ganhavam. Era dividida em três partes, com o total de 75 pontos (25 pontos eram para carteira de motorista: quem tinha carteira de motorista com mais de 25 anos; quem não tinha nenhum ponto perdido. Os outros 25 pontos eram para o carro, por exemplo, um carro 1.8 tinha mais pontos conquistados. O restante seria o tempo que a pessoa já foi motorista profissional). A pessoa deveria colocar o carro nas especificações preenchidas. Foram abertas 100 vagas e 83 foram preenchidas, sendo que cada motorista ganhador pagou R$20.000 à Prefeitura. Essa é a nossa grande luta, pois para termos o direito de trabalhar precisamos pagar R$20.000, além do imposto anual do ISSQN e ainda temos que ser cadastrado no INSS. Então, temos esses custos, e não achamos tão correto que uma empresa particular entre, coloque vários carros com 10 anos de uso para competir e claro, com um preço menor.

AM: Depois que o transporte por aplicativo começou a funcionar na cidade, o número de passageiros dos táxis aumentou ou diminuiu?

WA: Durante o dia não mudou, mas durante a noite houve uma queda nos pedidos de táxis.

AM: O que diferencia o táxi dos outros serviços de carro particular em Viçosa?

WA: Para mim, a principal diferença é a segurança, porque nossos motoristas são cadastrados na Prefeitura e lá tem uma ficha com o histórico dos taxistas. Para trabalhar, deve ter uma certidão negativa da Polícia Militar e, caso tenha alguma antecedência criminal, ela não pode estar. Além disso, todo taxista tem um seguro para seu carro bem como para o passageiro, se houver algum acidente o passageiro está assegurado. É questão de segurança, de confiança.

RA: O que pode ser feito para que a concorrência entre os táxis e o Livre seja mais harmônica?

WA: O município não pode impedir os aplicativos de funcionar aqui, mas ele pode regulamentar. Isso pode ser feito cadastrando os motoristas na Prefeitura, que eles sejam cadastrados no INSS, além de exigir que o carro tenha seguro para o passageiro e cobrando as devidas tributações. Nós pedimos à Prefeitura que solicite as mesmas exigências do táxi para o Livre. Nós mandamos um ofício para a Prefeitura, já tivemos uma reunião com eles e está em andamento. Todo mundo precisa trabalhar, não queremos briga, queremos trabalhar de maneira igual.

RA: Quais são os diferenciais do aplicativo Livre?

Junior Gomes: O aplicativo Livre faz uma conexão entre passageiros que precisam se locomover e motoristas que se cadastram para realizar este transporte. Todas as viagens são monitoradas por nossa central que funciona 24 horas por dia, 7 dias por semana. Ao entrarem no veículo e iniciarem a corrida, passageiros e motoristas estão cobertos por seguro viagem que é disponibilizado pela Livre. O serviço possui 3 categorias, Livre X (é a mais econômica, com corridas a partir de R$7,50 durante o dia e a partir de R$9,00 durante a noite e aos fins de semana), Select (são carros de luxo e com a tarifa um pouco mais alta devido ao maior conforto) e Livre Pink (destinada exclusivamente para motorista mulher e passageira mulher). Essa última categoria permite que mulheres, que antes tinham algum receio de dirigir pelo aplicativo, agora possam se cadastrar e trabalhar, visto que irão transportar apenas passageiras mulheres, trazendo, assim, maior segurança e comodidade para o público feminino.

RA: A instalação do aplicativo Livre em Viçosa já tem gerado bons retornos para vocês, ou a conquista dos clientes ainda é demorada?

JG: O aplicativo Livre já está presente em outras cidades mineiras. Nossa meta é levar poder de escolha, economia, conforto e praticidade para cidades onde as alternativas de transporte são poucas. Estamos muitos felizes de agora estar operando também na cidade de Viçosa, que iniciamos há 30 dias, já possuímos vários motoristas trabalhando e a população está gostando muito da novidade. Inclusive, queria aproveitar a oportunidade para agradecer por todo o carinho, mensagens e depoimentos que estamos recebendo da população Viçosense em nossas redes sociais. É muito gratificante saber que nosso trabalho está agradando a tantas pessoas.

RA: O app tem gerado um grande debate com a concorrência da cidade, como os táxis. A principal queixa é acerca de taxas e tarifas que possivelmente devem ser pagas ao município. Como o livre vai contribuir para a economia da cidade de Viçosa?

JG: O aplicativo é uma oportunidade de renda para milhares de famílias que hoje, de forma direta ou indireta, sobrevivem desta atividade. Muitas são as pessoas que antes, em situação de desemprego, hoje conseguem honrar seus compromissos trabalhando com o aplicativo Livre.

RA: Muitas pessoas ainda não se sentem seguras para usar o Livre, justamente ser uma alternativa nova na cidade. Existe um cadastramento de motoristas? Como é feito esse processo?

JG: Todos os motoristas passam por uma rigorosa análise antes de se cadastrarem para dirigir. Todos eles devem possuir certidão negativa de antecedentes criminais, Carteira de Habilitação definitiva e dentro da validade com observação de atividade remunerada. Recebem treinamento e constante acompanhamento para que consigam sempre atender da melhor forma possível. Os carros devem possuir perfeitas condições mecânicas e estéticas, além de estarem sempre limpos e cheirosos. A documentação do veículo também deve estar em dia. Somente após tudo isso, o motorista é então liberado para dirigir. Além disso, os motoristas são constantemente avaliados pelos próprios passageiros. Ao final de cada viagem, o aplicativo mostra a opção para que o atendimento seja avaliado e, dependendo do grau de insatisfação, o motorista pode ser suspenso e até excluído do aplicativo. Nossos motoristas parceiros também contam com uma equipe que está disponível para qualquer situação, sempre auxiliando e orientando em qualquer dificuldade ou emergência.

Deixe um comentário