Presidente do PSC de Viçosa pede aos cidadãos respeito ao Bolsonaro

Repórteres: Alice Ruschel e Laura Fernandes, estudantes de Jornalismo da UFV Contato: alice.mochko@ufv.br e laura.f.souza@ufv.br

Entrevista ocorreu no gabinete do Presidente do PSC na Câmara Municipal de Viçosa. Foto: Alice Ruschel

Segundo o filósofo grego Aristóteles, a política tem por objetivo buscar ações para o bem-estar tanto individual como coletivo. A política, que atualmente tem pouca credibilidade, é uma ciência importantíssima, pois ao participar ativamente dela, podemos cobrar nossos direitos como cidadãos e vigiar a administração de nossos governantes.

A atual conjuntura política do Brasil traz aspectos polêmicos e reflexivos e, por isso, o Jornal de Viçosa entrevistou na última terça (04) o vereador Wallace Arlindo Calderano do Partido Social Cristão (PSC). Ele foi eleito no ano de 2016 e está em seu primeiro mandato na Câmara Municipal de Viçosa em Minas Gerais. Nessa eleição, Wallace foi candidato de oposição a Ângelo Chequer, do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), juntamente a Cristina Fontes da coligação “Avançar Sempre Juntos”. Na época, Fontes perdeu as eleições para Chequer, vice do falecido prefeito Celito Sari. Formado em Educação Física na Universidade Federal de Viçosa e também professor na mesma área, Calderano discorreu sobre sua visão com relação ao governo de Jair Bolsonaro e também acerca da gestão do atual prefeito de Viçosa.

Repórter Alice Ruschel: Qual sua história com o PSC e porque a escolha dele para se filiar?

Vereador Wallace Arlindo Calderano: Filiei-me ao PSC na última campanha, antes disso era do PV, porque participava de um grupo político que continha 4 partidos de oposição ao prefeito atual. Mais tarde, me identifiquei mais com o PSC e fizemos uma coligação com o PSD para lançarmos os 30 candidatos a vereadores. Atualmente, o PSC conseguiu independência municipal, isto é, ele não faz parte de nenhum grupo político, dessa forma, temos o Diretório Municipal independente. Além disso, pretendemos lançar um candidato ao Executivo e 23 candidatos a vereadores com o objetivo de elegermos de dois a três vereadores do PSC.

AR: Quais são os valores ético-políticos do seu partido?

WA: Não temos uma ideologia. Trabalhamos com o que é certo e errado de acordo com o que pensamos. No entanto, definem o Partido Social Cristão como de extrema direita e conservador, além de pregarem que temos apenas os evangélicos. Contudo, na nossa ficha partidária consta que filiamos representantes umbandistas, católicos e espíritas. Nossa ideia é criar um vínculo para que todos possam se unir, mesmo sendo de religiões diferentes.

AR: O que você, como presidente do PSC, pensa dos atuais governos (Bolsonaro, Romeu Zema e Ângelo Chequer)? Quais aspectos positivos e negativos?

WA: A princípio, gostaria de destacar que as cidades mineiras têm passado por momentos conturbados com a crise financeira que vem do governo passado. O governo do Pimentel, devido a várias questões, deixou muitos repasses pendentes para algumas cidades. Viçosa, por exemplo, não teve o repasse de mais de 20 milhões, pode parecer pouco, mas é muito dinheiro para uma cidade interiorana. Importante dizer que esse orçamento é uma projeção. Hoje, a dívida com o Estado é de mais de 23 milhões, mas não recebemos nem perto dos 20 milhões. Fico chateado ao saber que o Zema fez várias promessas de quitar a dívida do Estado, porém ainda não as cumpriu. Dessa forma, as cidades mineiras continuam em crise financeira. Há cidades, por exemplo, que não pagaram nem o décimo terceiro. Com relação ao prefeito, vejo inovação, visto que tentou criar coisas novas. Não consigo ver em nenhum prefeito más intenções, porque creio que eles querem o melhor para a cidade. Contudo, na gestão do Ângelo Chequer vi alguns pontos negativos, como a falta de maior união entre os secretariados dele. Sobre o governo de Jair Bolsonaro, ainda não posso me posicionar. É claro que ele já colocou algumas questões polêmicas que podemos avaliar separadamente, mas não julgar seu governo em apenas cinco meses. Digo isso porque ele terá que expor medidas e só assim veremos os resultados delas.

Presidente do PSC comenta sobre os atuais governos de Bolsonaro, Zema e Chequer. Foto: Laura Fernandes

AR: Na última eleição, em quem você votou?

WA: Não votei no Bolsonaro. Votei no João Amoêdo. Porém, no segundo turno também não votei no Haddad. No segundo turno foi a primeira vez que não me senti confortável para votar. Novamente digo, não votei no Bolsonaro, mas ele é o nosso presidente! Então, temos que no mínimo respeitá-lo e hoje está faltando isso de muita gente.

AR: Você foi oposição ao atual prefeito Ângelo Chequer nas eleições de 2016. Poderia comentar sobre?

WA: Sim, apoiei Cristina Fontes, a candidata derrotada. No entanto, essa oposição está relacionada aos projetos do Executivo recebidos na Câmara. Nosso partido, como é independente, tem uma liberdade em votar neles. Quando a proposta traz vantagens para a cidade, eu voto a favor, mas ao notar algo ruim, procuro o prefeito e marco reunião para discutir o projeto com ele.

AR: Com relação ao contingenciamento de verbas nas universidades, você acredita que essa é a melhor maneira para amenizar a crise brasileira? Como você analisa essa conjuntura?

WA: Sou totalmente contra, porque não é limitando os recursos da educação que você amenizará a crise. Infelizmente, todos os governos têm feito isso, como do Lula, Dilma e Bolsonaro. Como professor, fico extremamente chateado e espero que isso seja momentâneo. Com o contingenciamento, óbvio que será mais difícil para o reitor de alguma universidade, uma vez que ele deverá controlar os gastos. Para Viçosa, esse contingenciamento trará consequências, já que se for retirado um dado valor da universidade o comércio entra em crise, gerando problemas para a população em geral. Prefiro que retire dinheiro da saúde à educação, porque através da educação resolveremos esses problemas.

Laura Fernandes: Como você analisa a Reforma da Previdência no governo Bolsonaro? Ela é necessária?

WA: Sou totalmente a favor. Vários outros presidentes como Fernando Henrique, Lula, Dilma e o Temer acreditam que a reforma é importante. No mais, todos sabem que a previdência está quebrada e o prejuízo é todo mês. Por exemplo, eu deveria aposentar daqui a 17 anos, sem a reforma, isso não acontecerá. Da mesma forma, vocês também não aposentarão. Então, a Reforma da Previdência tem que ser feita, mas com relação ao modo que ela é proposta eu não concordo em partes, porque acredito que os vereadores junto com deputados devem fazer emendas para mudanças nessa reforma.

LF: Analisando a cidade de Viçosa, o que você percebe de problemático no âmbito político, social e econômico?

Wallace Calderano ressalta a importância da criação de um hospital municipal em Viçosa. Foto: Alice Ruschel

WA: Em todas as áreas temos problemas, como em qualquer cidade do interior. Aqui em Viçosa, por exemplo, com relação à saúde temos dois hospitais filantrópicos. No entanto, precisávamos de um hospital municipal, porque nossos hospitais atendem pessoas de São Miguel, Teixeiras, Coimbra e Ervália, cidades de onde não vem recurso nenhum. Podemos ver hoje que o Hospital São João Batista está praticamente falido, então acredito que está na hora de criarmos um hospital municipal.

 LF: Quais soluções você propõe para os problemas da cidade de Viçosa?

WA: Preocupo-me muito com a saúde, mas a questão da educação deve vir antes. Para isso, é necessário um trabalho do Estado com a cidade, porque cada esfera é responsável por uma etapa do ensino, mas deveria existir uma junção delas. Por exemplo, sabemos que nem todos os estudantes que ingressam em uma universidade estão capacitados, porque tiveram o ensino fundamental e médio precários. Se o Governo Federal em vez de preocupar com as cotas promovesse um ensino de qualidade, nós não precisaríamos delas. Temos como exemplo o Coluni que é um colégio público e quem se forma lá consegue ingressar em uma universidade, tendo cota ou não.

LF: Como você analisa a questão da segurança em Viçosa?

WA: Não só aqui, mas no Brasil inteiro essa questão é muito complicada. Eu, por exemplo, sou a favor do porte de armas, porque estou mudando para a zona rural com a minha esposa. Se um dia um criminoso invadir minha casa, qual seria a forma de defesa da minha esposa enquanto a polícia não chega? Por isso, sou a favor que as pessoas tenham arma em casa para se defenderem, mas não apoio que elas andem armadas na rua. Infelizmente, todos os governos depois da ditadura não valorizaram a segurança pública e hoje não estamos completamente seguros.

AR: Não seria mais viável investir de forma efetiva nas forças policiais, uma vez que esses serviços estão precários ou possuem ligações com milícias, comprometendo a integridade dessas forças?

WA: Sim, totalmente. Não estou criticando as forças policiais. Porém, infelizmente não se tem policiais preparados e, em muitos casos, o salário deles é ridículo. Sendo assim, creio que precisamos fazer uma reforma total, seja do mais alto ao baixo escalão. Contudo, ainda sou a favor do porte de armas.

LF: Levantando outra questão sobre saúde, sabemos que Viçosa está enfrentando uma epidemia de dengue. O que fazer para amenizar essa situação?

WA: Acredito que é necessário o trabalho do Poder Executivo junto à comunidade. Não adianta o Executivo fazer campanha e mutirão de limpeza se a comunidade não colaborar. Portanto, a população tem que se responsabilizar também, mantendo a limpeza dos seus quintais e das ruas.

LF: Outro assunto discutido recentemente na Câmara Municipal foi o aumento da passagem da viação União, de R$2,50 para R$2,75. Porém, alguns problemas são visíveis no que tange a questão dos transportes: superlotação, atrasos e etc. Na sua visão, o aumento foi justo ou ainda há pontos falhos?

WA: O aumento tinha que acontecer porque se o dono da empresa buscasse a justiça, de acordo com os reajustes, esse aumento iria para R$2,84. Então, teve uma Comissão e foi discutido o aumento para R$2,75. Nesse caso, temos que cobrar melhorias da empresa. Agora em junho vence o contrato e eu não sei se o prefeito renovará ou abrirá nova concessão. Portanto, cabe a ele cobrar à empresa novas construções de pontos de ônibus e ampliação da quantidade de transportes para amenizar a superlotação. Já nós, vereadores, devemos fiscalizar isso.

LF: Alguns vereadores ressaltam, muitas vezes, sobre os benefícios para a cidade de Viçosa se os estudantes da UFV transferirem seus títulos para cá. Você também acha isso importante?

WA: Sim, é importantíssimo. A grosso modo o que acontece é que recebemos uma verba do Estado de acordo com o número de habitantes. Então, esses habitantes “flutuantes”, que não transferem o título pra cá, não possibilitam o aumento da renda da cidade, uma vez que quanto menor o número de habitantes menos recursos vêm pra cidade.

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