A nova era da Reitoria: Pró-Reitor de Gestão de Pessoas revela suas expectativas

Repórteres: Adrielle Mariana e Roberta Abreu, estudantes de Jornalismo (UFV) – Contato: adrielleandrade69@gmail.com e roberta.abreu3@gmail.com

Luiz Antônio em sua sala na sede da Pró-Reitoria de Gestão de Pessoas
Foto: Roberta Abreu

O Pró-Reitor de Gestão de Pessoas (PGP) da Universidade Federal de Viçosa, Luiz Antônio Abrantes, na última quinta-feira (06), revelou como os cortes do atual Governo atingirão a sua gestão, questionou sobre a terceirização dos serviços prestados na instituição e ressaltou sobre a importância da UFV se fazer presente e auxiliar nos problemas da cidade. A PGP é um órgão vinculado à Reitoria e tem como responsabilidade a execução, o estabelecimento e a avaliação das ações administrativas e das políticas de gestão e desenvolvimento daqueles que integram a instituição. É uma área que tem um cuidado com a saúde ocupacional e preza pela segurança dos servidores. Luiz Antônio é natural de Ubá e desde seus 17 anos reside em Viçosa. Sua trajetória na UFV começou cedo, formou-se como tecnólogo em Cooperativismo e a partir da década de 80 cursou e, logo mais, lecionou Administração, conciliando uma dupla jornada de trabalhar e estudar. Foi chefe do Serviço de Desenvolvimento Pessoal e trabalhou de dez a doze anos na diretoria de Recursos Humanos. Continuou a sua intensa carreira acadêmica em Lavras, fazendo mestrado e doutorado. Além disso, atuou como Pró-Reitor na PGP de 2008 a 2014 e, há três dias, foi nomeado pelo atual Reitor, o professor Demetrius, para exercer o mesmo cargo.

Roberta Abreu: Quais são suas expectativas ocupando esse cargo na Pró-Reitoria?

Luiz Antônio Abrantes: Sempre fazer o melhor em relação às atribuições do cargo. Já exerci a mesma função durante seis anos e retorno com uma melhor proposta política, tanto na área de Desenvolvimento quanto na área de Controle, Bem-Estar e Segurança para os servidores da Universidade, abrangendo todos seus câmpus. Devido ao atual cenário brasileiro, é um momento de muitos desafios, principalmente na área da educação. Logo, há uma grande preocupação em como conciliar essa estrutura com o que vem acontecendo, sem que se perca nossa qualidade de ensino.

RA: Como foi ocupar esse mesmo cargo durante seis anos?

LA: Ocupei aqui na UFV no período de 2008 e, ao mesmo tempo, acontecia a implementação do Reuni (Reestruturação e Expansão das Universidades Federais). Na época, fiquei durante dois anos na gestão do Reitor porque ele havia exercido o cargo de Secretário Executivo no MEC e, com a chegada do novo Reitor, fiquei mais quatro anos. Após isso, afastei nesse período da última administração, durante quatro anos. Agora estou retornando para mais uma etapa.

Adrielle Mariana: Como pretende atender as necessidades da Gestão, visto que ela busca a qualidade de vida pessoal e profissional dos servidores?

LA: A Universidade, dentro da estrutura da cidade, oferece pouco em relação a qualidade de vida dos estudantes, do corpo técnico e docente. Promover isso e o bem-estar na instituição tem sido uma dificuldade, pois a UFV teve uma expansão considerável e recebemos pessoas de locais distintos. Há 3 divisões na Pró-Reitoria e ambas se preocupam com os servidores ativos e aposentados. A primeira trata deles desde o processo de admissão até a aposentadoria e é encarregada pelas férias, nível de cadastro, frequência e orientação funcional. A segunda busca promover o seu desenvolvimento através de treinamentos e capacitações. A terceira zela pela segurança, saúde ocupacional e qualidade de vida no trabalho, oferecendo psicólogos, fisioterapeutas, médicos e técnicos de segurança. São grandes desafios e pretendo promover uma nova programação em relação aos cuidados com o servidor durante sua passagem pela instituição.

RA: Como o corte de verbas afetará sua área?

LA: Afetará de diversas maneiras. Temos preocupações parecidas com as de 2008. Na época, ao mesmo tempo em que as Universidades expandiram, o Governo promovia um quadro de referência em relação às despesas. Foi criado, dentre tantos outros, o Banco de Professor Equivalente, onde se congelava vagas destinadas aos docentes. Isso foi um grande problema, pois os cursos cresciam e não era possível contratar parte dos educadores. Com o atual Governo, em meio a tantos desafios, o que mais nos afetaria são os cortes nas chefias das pequenas coordenações de campo, visto que temos uma área extensa que demanda pessoas que são referência nisso.

AM: Quais são os maiores problemas de sua pasta?

LA: Temos vários conflitos em relação a estrutura dos órgãos da Universidade. Há pessoas muito qualificadas ocupando áreas que não demandam tanto nível de conhecimento. Isso ocasiona a frustração dos servidores, pois sentem que não estão explorando seus potenciais por completo, embora saibam das necessidades que o cargo requer. Também passamos por dificuldades acerca de relacionamentos, doenças ocupacionais e fragilidades pessoais. É preciso, num primeiro momento, ouvir e respeitar essas pessoas, a fim de promover a mudança nesse cenário.

RA: Como avalia a administração da ex-Reitora e o que espera do novo Reitor?

LA: O nível de qualidade que a UFV tem hoje é diferenciado de outras Universidades. Ao longo do tempo, a participação dos estudantes e dos servidores foi sendo consolidada e isso é refletido, pois muitos passam a maior parte do dia aqui. Por outro lado, a parte da gestão hoje é muito difícil. A Universidade não tem uma plena autonomia, por exemplo, às vezes os orçamentos não são tão flexíveis e os recursos vêm muito direcionados. Creio que o papel do Reitor seria buscar as verbas e trabalhar novos projetos para que se consiga viver além do orçamento provindo do Governo Federal. Outro problema que temos é a terceirização, o custo é muito caro quando se faz uma gestão de mão de obra que não é contratada pela instituição. Nota-se isso na diferença salarial entre o servidor que é e aquele que não é terceirizado aqui dentro. Outro fator é o concurso, visto que é muito fechado e não possibilita fazer uma entrevista ou outra seleção que não seja tão objetiva. São questões que precisam ser melhoradas.

AM: Em média, quantos terceirizados a UFV possui? Você é a favor desse tipo de serviço?

LA: Determinados cargos, onde requer pessoas de forma transitória, não se justifica tê-las aqui dentro do Quadro. Por exemplo, por que ter um pedreiro na instituição se a construção da obra tem uma determinada duração? E quando ela chegar ao fim, o que vai ser desse empregado sem atividades? E, no serviço público, não se pode desviar uma determinada pessoa do cargo que foi admitida. É uma legislação muito cruel. Porém, a terceirização tem a vantagem em termos de poder fazer mudanças e ter mais flexibilidade, mas, ao mesmo tempo, você tem pessoas que não vão continuar dentro da Universidade, pois pertencem às empresas, que tem a prerrogativa de fazer essas mudanças. É um processo complicado de gerir.

AM: O que pretende fazer de diferente em relação à gestão passada?

LA: Sempre tivemos avanços na Pró-Reitoria de Gestão de Pessoas. Passamos por uma grande evolução tecnológica e hoje o fluxo de papéis tem diminuído, pois estão se informatizando. Conto com uma equipe excelente aqui e busco fazer o melhor, tento sempre passar informações em tempo hábil para que os processos tramitem com rapidez. Em cada administração, cada um deixa sua marca, passa por dificuldades e trata delas da maneira que achar melhor. Tenho contato com a UFV há muitos anos e sinto orgulho de fazer parte e vê-la crescer.

RA: O que pode ser feito para romper a barreira que distancia a UFV de Viçosa?

LA: Hoje temos determinados cursos com o exemplo contrário desse distanciamento da cidade. Entretanto, necessita-se de uma iniciativa pública e privada para tentar fazer essa concisão. Na UFV contamos com grandes laboratórios e diversos cursos, mas isso fica limitado por questões políticas. Atualmente nem tanto, em razão das parcerias que a instituição tem com a cidade. Através da Fundação Arthur Bernardes e de outros órgãos acontece uma interação muito grande. É importante a Universidade estar mais presente nos problemas da cidade. Vemos iniciativas isoladas de Departamentos, CAs (Centros Acadêmicos) e Empresas Juniores que trabalham para mudar, mas é necessário haver um projeto de ação e de continuação em relação a isso.

AM: Há probabilidade de haver concursos públicos durante sua gestão?

LA: Temos aqui duas formas de controle orçamentário. O Banco de Professor Equivalente, que é o quantitativo físico de professores que temos hoje, e contamos também com o Quantitativo Orçamentário. Atualmente são 1.976 docentes e dispomos dessa flexibilidade de colocar professor substituto quando outros se ausentam. Isso é possível através do controle desse Banco e não podemos ultrapassar o valor quantitativo percentual. Enquanto o temos, é possível fazer o nível de contratação, sendo que o próprio congelamento do governo não o afeta. Em relação ao servidor, temos também um quadro de referência, listando cargos que a instituição possui e aqueles que ela pode fazer a contratação via concurso público.

Desde de 2008 alguns postos vêm sendo congelados, mas vemos que o governo está sinalizando em cortar essas despesas. Creio que os setores de Professores Equivalentes e dos servidores/técnicos não serão alterados. Além disso, estamos crescendo em relação ao número de terceirizados e é difícil fazer a gestão desses, já que isso cabe à empresa que o admite como funcionário.

RA: Porque você foi escolhido para ocupar esse cargo?

LA: Pelo meu perfil mais tranquilo e conciliador e por tentar resolver os problemas. Quando entrei atuei como técnico e trabalhei na área de recursos humanos, adquirindo conhecimento. Também segui a carreira de docente, então, ter desempenhado essas duas funções me possibilitou entender diferentes áreas e problemas em relação às aspirações de cada um. Tento fazer o melhor para essa confiança que me depositaram.

AM: O que gostaria de fazer, mas não será possível a curto prazo?

LA: A curto prazo faremos o Operacional, é muito difícil fazer algo que dê esse nível de impacto. É necessário estabelecer uma Política de Segurança, Saúde Ocupacional e Desenvolvimento, além de deixar ações contínuas dentro da nossa Pró-Reitora. É importante envolver todos os órgãos da Universidade, como os departamentos acadêmicos, para que consigamos fazer aqui capacitações e treinamentos de servidores. É essencial que a Política de Segurança seja implementada dentro da UFV, para que o servidor seja protegido e não adquira doenças ocupacionais no período laboral. Ainda é um grande desafio, contudo, temos o apoio da Reitoria e de seus valores, que reforçam sobre o respeito ao ser humano.

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