“A demanda é infinita”, afirma novo chefe da Divisão Psicossocial da UFV

Repórteres: Thaís Poubel e Mariana Ribeiro, estudantes de Jornalismo da UFV — Contato: thais.poubel@ufv.br e mariana.souz2@ufv.br

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Sede da Divisão Psicossocial na Vila Gianetti.
Foto: Thaís Poubel

Como uma cidade universitária com uma população flutuante de quase 20 mil habitantes que são estudantes da Universidade Federal de Viçosa , é de se esperar que os transtornos e desconfortos da saúde mental estejam presentes em índices altíssimos na cidade. Além disso, não são raros os casos de suicídio. Grande parte do apoio é oferecido aos estudantes da UFV através da Divisão Psicossocial, que disponibiliza tratamento e apoio psicológico gratuito aos estudantes. Funcionando nas casas 28 e 29 da Vila Gianetti, a Divisão Psicossocial conta com estrutura e uma equipe com dois psiquiatras, seis psicólogos e dez estagiários de Psicologia para que esse serviço possa ser oferecido.

Pedro Baratti, o atual chefe da Divisão, assumiu o cargo no dia 10 de junho, mas já atuava como psicólogo no local desde setembro de 2017. Formado em Psicologia pela Universidade Federal de São João Del Rei, concluiu seu mestrado em Administração com foco em Gestão Pública pela Universidade Federal de Lavras em 2008. Em 2010, tentou com um amigo uma nova empreitada na psicologia viajando pelo Brasil, mas infelizmente a empresa não deu certo e Pedro foi trabalhar na sua área no Instituto Federal Catarinense.

Em 2017, quando trabalhava no Instituto Federal do Triângulo Mineiro, passou pelo processo de redistribuição: a profissional que atuava na UFV foi para lá e ele veio para Viçosa, trabalhando na Divisão desde então. Nessa entrevista, ele conta sobre os planos para a nova gestão, o que irá manter e sobre o trabalho dentro dessa instituição tão relevante na comunidade.

Vale destacar que a Divisão Psicossocial funciona de segunda a sexta e o atendimento é oferecido para estudantes da UFV, por ordem de chegada, e ocorre nas casas 28 e 29 da Vila Gianetti.

Thaís Poubel: Como você se tornou chefe da Divisão?

Pedro Baratti: A ordenação foi uma surpresa. Meu trabalho é restrito à Divisão Psicossocial. Não tenho outros contatos com professores e outros técnicos da UFV. Eu não conhecia a atual Pró-Reitora de Assuntos Comunitários, que é a Pró-Reitoria a qual estamos vinculados. Recebi uma mensagem dela me chamando para uma reunião. Na reunião estavam ela e os dois atuais secretários e foi onde ela me disse que conversaram com alguns alunos, com outras pessoas e que eles tinham me indicado para o cargo. No momento, disse que iria pensar sobre, já que fui pego de surpresa e eu sempre, minha vida inteira, procurei pelo contato da ética, pensando no que pesaria aquela escolha. Pensei muito antes de aceitar.

TP: O número de servidores trabalhando na Divisão é suficiente para atender a demanda?

PB: É preciso deixar bem claro que a demanda é infinita. Para um psicólogo, em uma instituição de ensino onde é oferecido esse suporte, como a UFV, não falta trabalho, as oportunidades são grandes assim como a demanda. Nós estamos em uma instituição de ensino, e muitas vezes as pessoas acreditam que psicólogo é somente para aquele papel clínico, curativo e de tratamento. É um trabalho que eu adoro, mas temos que dar alguns saltos para outros setores. Por exemplo, nós estamos pensando em projetos, por exemplo uma parceria com o curso de jornalismo, para trabalhar a imagem da Divisão e até mesmo a fim de informar os alunos, que são nossos alvos principais

TP: Para isso precisaria de mais profissionais?

PB: É óbvio que quanto mais profissionais melhor. Estamos conseguindo atender a demanda, mas ela sempre aumenta. Se for possível a contratação de novos profissionais, ótimo. O que proponho é trabalhar aumentando a eficiência da nossa atuação chegando aos coordenadores e chefes de departamento para trabalhar de forma mais estratégica.

TP: Às vezes, parece que os sofrimentos mentais estão cada vez mais presentes. Há realmente esse cenário?

PB: Na nossa sociedade hoje, muito em função das mídias sociais, associa-se crise com o choro. E o choro é natural. Tristeza é natural. Não natural é estar sempre assim. Especialmente agora com essas mídias, se passa que ter problemas e sentimentos é sinal de fraqueza. Mas em determinados momentos a intensidade e a frequência desses sentimentos acabam atrapalhando a vida da pessoa.

TP: A procura por atendimento é maior entre alunos de graduação ou pós-graduação (mestrado e doutorado)?

PB: Proporcionalmente, é praticamente a mesma quantidade. Óbvio que por ter mais alunos a graduação procura mais e na parte de psicologia clínica. Eu dou alguns workshops e mini-cursos e o pessoal da pós gosta muito. Tem um que chama “Deu branco: compreendendo a ansiedade e o estresse”, que é justamente sobre lidar com como nós funcionamos, quando determinados sentimentos atrapalham. Aquele momento que a pessoa está em uma apresentação e trava por exemplo, isso já é prejudicial.

TP: Você pretende fazer alguma mudança institucional ou mais específica durante sua gestão?

PB: O ponto central é continuar justamente com alguns trabalhos centrados, não chega a ser uma mudança institucional. O que eu quero é fortalecer os laços com as outras instituições, eu consegui muito engajamento com o pessoal dos centros acadêmicos e excelentes resultados. Acredito que temos uma área externa interessante para atividades terapêuticas, que poderia ser melhorada em parceria com alunos de cursos que lidam com paisagismo. Também quero nos conectar com a Comissão de Moradia Estudantil, que é algo que mostra como as universidades refletem cada vez mais a sociedade brasileira, no caso de situações socioeconômicas de vulnerabilidade, nós precisamos de um olhar específico para essas pessoas. É nossa função ter esse cuidado, com quem já se encontra fragilizado. Deixando bem claro que o público alvo é toda comunidade acadêmica, de alunos a professores.

TP: Você acha que é possível realizar tudo isso ainda na sua gestão?

PB: Na semana que vem, já tenho duas reuniões com outros setores, como a Pró-Reitoria de Gestão de Pessoas, e uma na Divisão da Pró-Reitoria de Gestão de Pessoas, que lida com a saúde do servidor. Para ter a porcentagem de afastamentos de servidores por motivos de saúde mental aqui na UFV e para que a Divisão Psicossocial possa apoiar. Ainda quero trabalhar com a Pró-Reitoria de Ensino e os departamentos e coordenações dos cursos. Esse semestre está na reta final, mas a partir de julho eu gostaria de ter esses primeiros movimentos. Já tenho contato com alguns professores que estão enfrentando determinados problemas e dilemas. Eu acredito que a Divisão Psicossocial pode auxiliar com determinadas situações.

TP: Com o contingenciamento, houve alguma mudança no orçamento da pasta?

PB: Ainda não tive acesso. Mas um ponto que eu posso garantir é que nosso setor é muito barato. Fora os profissionais, efetivos e terceirizados, esses gastos seriam estruturais. Também temos duas campanhas, o Setembro Amarelo e o De Boa da UFV, onde temos mais gastos com publicidade e viés informacionais.

TP: O contingenciamento afetaria um projeto desse?

PB: Não sei como seria. Isso depende de como afeta os setores parceiros e assim afetaria indiretamente nosso setor.

TP: Como é o funcionamento da Divisão?

PB: Atualmente são dois os serviços mais procurados – psiquiátrico e plantão psicológico – estão longe de ser os únicos trabalhos que oferecemos. São dois psiquiatras que trabalham 20 horas semanais cada e oferecem cerca de 60 atendimentos semanais. Já o atendimento psicológico acontece em plantões revezados entre 6 psicólogos e os estagiários que auxiliam. Todos ocorrem por ordem de chegada, e sempre depende da quantidade pessoas, fazendo o movimento oscilar bastante. Óbvio que em momento de férias a demanda cai muito, em final de período e em semanas de prova por outro lado, a  procura aumenta bastante. O que me preocupa nos alunos é que muitas vezes veem o remédio como única solução, nós precisamos refletir e entender o que está nos deixando mal. O remédio é um aliado no tratamento, mas não o único, é preciso refletir sobre suas escolhas e buscar o meio mais saudável de lidar com as situações.

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