Ângelo Chequer critica Bolsonaro, Zema e prevê “50 anos para colocar Viçosa no eixo”

Repórteres: Alanna Fontes e Felipe Basílio, estudantes de Jornalismo da UFV – Contato: alanna.ferreira@ufv.br e felipe.lanza@ufv.br

Prefeito Ângelo Chequer em seu gabinete.
Foto: Alanna Fontes

Ângelo Chequer, atual prefeito de Viçosa, está em seu segundo mandato. Na última disputa, em 2016, foi reeleito com cerca de 60% dos votos válidos. Criado somente pela mãe (mãe solo), passou por uma infância difícil, como a maioria dos brasileiros. Começou a trabalhar aos 12 anos vendendo picolé e trabalhando na horta da vizinha. Um ano depois vendia cachorro quente nas ruas de Viçosa, onde ficava até tarde, mesmo acordando 6 horas para ir à escola. Aos 15 anos, sua mãe decidiu fazer o exame de DNA. No entanto, alguns dias antes de conhecê-lo, Antônio Chequer, o então ex-prefeito de Viçosa, acabou morrendo sem conhecer seu filho. Pouco tempo depois, com 18 anos, entrou para a política, segundo ele, “para fazer raiva na classe política”, e foi o vereador mais jovem da cidade. Se reelegeu por mais duas vezes e foi chamado na metade do seu terceiro mandato para compor a chapa de Celito Francisco Sari como candidato a vice-prefeito pelo PSDB (Partido da Social Democracia Brasileira). Com a morte de Celito, assumiu a Prefeitura em 2014, sendo reeleito em 2016 com aproximadamente 24 mil votos. Ângelo é autor de várias ações públicas, como a redução das férias de vereadores, o projeto “Construindo a Liberdade”, a expansão de vagas em escolas de base e várias outras. A entrevista a seguir, concedida pelo prefeito ao Jornal de Viçosa em 6 de junho, foi realizada em seu gabinete.

Repórter Alanna Fontes: Primeiramente, como o senhor avalia a presidência de Bolsonaro?

Prefeito Ângelo Chequer: Vou deixar muito claro: eu não votei no atual governo. O Jair Bolsonaro parece não ter saído ainda das discussões políticas das eleições, continua batendo nas mesmas teclas, parece que quer esmagar as minorias. Resumindo, está na hora do Governo mostrar para que veio. O presidente já deveria ter instalado o gabinete dele, pedido ao Congresso para analisar as medidas, para poder chegar já mostrando a cara dele. Ele perdeu dois meses de Governo com o Governo anterior, era o momento de aprovar já o que ele tem vontade de aprovar. Ao deixar os filhos penetrarem no Governo e fazerem o que estão fazendo ele tem deixado um pouco a desejar em alguns aspectos. Nós perdemos ali com uma discussão sobre meninos de azul e meninas de rosa enquanto estamos com 13 milhões de brasileiros desempregados, ou seja, se perde muito tempo com algo que não merece tanta atenção. Nós temos um presidente da República que não sinaliza uma direção, tudo bem, esse é o País que vem de 16 anos do governo anterior, mas e agora? Ele é o presidente, o que ele tem para apresentar de fato para o País? Porque tudo gira entorno da Reforma da Previdência, mas a gente sabe que não é só esse ponto a se rever. Eu não tenho conhecimento do texto completo, mas não pode ser um Governo que só se resume nisso, eu entendo que está faltando.

AF: E a gestão do governador Romeu Zema?

AC: O Zema continua não repassando para os municípios nossos recursos. Ele reteve IPVA dos viçosenses. Na saúde reteve em torno de R$ 5 milhões, sendo que o dinheiro que já vinha não era suficiente. O Zema é como um filho que pediu para o pai um Fusca e ganhou uma Ferrari, as chances que ele tinha de ganhar o Governo eram mínimas, era o Governo mais despreparado. Ele se lançou como Governador com o intuito de se promover a prefeito de Araxá e acabou ganhando como Governador do Estado de Minas Gerais. Eu vejo um desejo nele de querer acertar, porém o que Minas precisava neste momento era do mais experiente, e nós estamos pagando um preço terrível. Ele vem com aquela ideia de iniciativa privada, fala o tempo todo em vender a Cemig com o faturamento de quase 2 bilhões no ano, ele fala em vender a Copasa que abastece mais de 600 municípios com água. Sempre querendo vender o estado, sendo que o que tem que fazer é diminuir o tanto de cargos políticos que tem dentro da Cemig e dentro da Copasa, colocar pessoas competentes para fazer a gestão certa e deixar a coisa fluir, que em pouco tempo tem retorno…

Repórter Felipe Basílio: Quais os planos do seu partido (PSDB) para as próximas eleições municipais?

AC: Nós temos dois caminhos. O primeiro é de seguir com uma candidatura própria, está sendo avaliado ainda, mas há também a possibilidade de apoiarmos outro partido. Meu vice-prefeito Arnaldo Andrade já mostrou interesse, mas não tem a ideia de se candidatar por alguns problemas que não o possibilitariam. Então hoje eu não teria nomes para indicar.

FB: Como foi sua entrada na Prefeitura após a morte do então prefeito Celito Sari?

AC: Foi difícil. Eu confesso que eu estava muito chateado com o momento político do Brasil, com todo o movimento na época dos protestos, todo mundo insatisfeito com seus dirigentes, no âmbito Federal, Estadual e Municipal. Foi muito difícil porque ninguém espera a morte de ninguém. Eu estava no Espírito Santo, era um feriado da cidade e de repente eu recebi o telefonema, passei mal com receio do que estava por vir, para mim foi um choque.

FB: E em relação à reeleição, como foram os preparativos para a sua candidatura?  Já estavam confiantes com vitória?

AC: Estava muito confiante, eu sempre trabalhei com indicadores. A minha oponente [a vereadora Cristina Fontes, do PMDB] era minha amiga, fomos colegas na Câmara, eu até cheguei a conversar com ela para ela ser minha vice, mas ela optou por ser candidata.

FB: Quais os problemas da cidade de Viçosa que necessitavam de maior atenção quando você assumiu a Prefeitura?

AC: Primeiro, a educação. Quando eu entrei havia falta de vagas nas creches, as mães não tinham onde deixar seus filhos. Eu posso destacar que vou entregar seis escolas novas, uma escola por ano. Para a merenda escolar, começamos a comprar da agricultura familiar e hoje 80% vem disso, valorizando em média 40 famílias do meio rural. O transporte escolar, que era controlado por uma só empresa, hoje são 20 famílias que dividem esse lucro. O segundo era a saúde, quando eu cheguei faltavam médicos, o salário era R$ 4,5 mil e hoje está em R$ 13 mil e criamos um incentivo de mais 3 mil reais para especialização em médico da família, hoje quase todas as unidades tem um, que trata o paciente com dignidade, além de não faltar médicos na nossa cidade. Fizemos também em convênio com a Universidade para aumentar as especialidades médicas.

FB: Em outubro 2017, seu mandato foi cassado devido à acusação de abuso de poder político e econômico nas eleições de 2016. A cassação foi derrubada pela Corte Eleitoral do Tribunal Regional Eleitoral (TRE-MG) em junho de 2018. Qual a sua declaração sobre a acusação?

AC: Eu achei muito injusta a denúncia do Ministério Público de Viçosa. Foram oito pontos colocados no processo, o primeiro foi um projeto que eu criei no qual nossos presos trabalham, ganham meio salário e a cada três dias reduzem um dia da pena, muitas vezes ainda eles saem de lá empregados, dando dignidade a eles. Na época, quando nós inauguramos, o prédio passou uma semana com tudo certo e no final dela o Diretor me ligou falando que teria que desligar as máquinas por quedas de energia do presídio. Nós seguramos o projeto por questões de segurança e eu liguei pessoalmente para a Cemig para melhorar a rede elétrica. Nesses 30 dias que ficou parado o promotor falou que eu inaugurei uma obra que não estava funcionando. Eu inaugurei também o novo Centro Administrativo, a prefeitura pagava entorno de 80 a 100 mil reais por mês, e hoje já caiu pela metade, mas quando eu inaugurei eu vim após duas semanas pela falta de internet por um problema de atraso da prestadora de serviço. Outro foram as cores dos táxis que, segundo eles, eram as cores do meu partido. O que aconteceu: uma agência de publicidade ganhou a licitação, apresentou para eles quatro ações de layout e a associação de taxistas escolheu uma. Uma das farmácias também foi colocada, pois nós inauguramos, para fazer pressão no Estado, pois estava no convênio que a parte física era nossa e o mobiliário era do Governo do Estado. Nós inauguramos e mostramos, para fazer pressão, um evento que teve no máximo 150 pessoas, como isso iria influenciar na eleição que eu tive 13 mil votos de frente? Acabou que o Estado não mandou os móveis, eu tive que bancar também. Então se for ver os pontos os mais graves eram esses. Eu vi que o Promotor estava levando em conta uma questão meramente política.

AF: Quais as propostas do PSDB para as próximas eleições?

AC: Independentemente do partido, cada administrador deve dar sua parcela de contribuição. Eu vejo que são essas as agendas que ele tem que se atentar: na educação, no saneamento. Eu entendo que nós temos que ter avanço de infraestrutura na nossa cidade, Viçosa não foi planejada para chegar ao ponto que chegou. Aqui a Universidade, na década de 80, tinha 5 ou 6 cursos de graduação, hoje tem mais de 60. A cidade precisava crescer, não tinha Plano Diretor, cresceu de forma desordenada, ainda tem 300 ruas sem calçamento. Então, eu acredito que precisa de no mínimo 50 anos para colocar a cidade no eixo, pois ela não foi planejada, são necessárias essas obras de infraestrutura. Precisa melhorar a qualidade de vida das pessoas, ampliando o atendimento dos médicos, investindo nessas áreas estratégicas, saúde, educação, infraestrutura, mobilidade urbana.

AF: Quais você acha que são os pontos negativos do seu mandato?

AC: É difícil se auto avaliar. Eu entendo que nós pegamos a Prefeitura num momento difícil, posso dizer que, como todo gestor, nós temos defeitos, mas temos qualidades também. Nós conseguimos avançar em diversos pontos, mas eu também tenho minhas decepções, por exemplo, eu queria avançar no georeferenciamento. Ainda estou na tentativa, mas acho que os pontos negativos foram melhorar mais o setor tributário do município de arrecadação, também infraestrutura. Em todos os setores eu queria mais.

AF: Qual é o maior desafio do prefeito?

AC: O histórico de prefeito aqui é muito negativo, a pressão é muito grande, porque Viçosa não teve o devido planejamento, a infraestrutura. As pessoas aqui votam numa esperança de que o próximo prefeito resolva todos os problemas da cidade. Eu tive a felicidade de fazer minha campanha e dizer que eu não iria resolver todos os problemas da cidade em quatro anos, as pessoas começavam a me pedir e eu respondia que não faria pois não tinha a condição de fazer. Seria da minha parte desonesto chegar em determinado bairro e prometer coisas que eu sei que não teria como executar, pela previsão de receita e pela previsão do que é necessário ser feito. Então, o que eu posso dizer, é um fardo enorme ser prefeito hoje, numa cidade como a nossa, pobre, principalmente pela parte da infraestrutura da cidade. E eu não tenho como dar resposta imediata para sociedade, ainda mais em dias de rede social, onde qualquer cidadão vê algo errado e publica, e o Município não tem como dar a resposta imediatamente.

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