“A doença vai chegar”, alerta presidente da Associação Médica de Viçosa

Por: Guilherme de Carvalho Alves, estudante de Jornalismo da UFV.

Foto: Prefeitura Municipal de Viçosa/Divulgação

Em entrevista por e-mail ao Jornal de Viçosa,

O presidente da Associação Médica de Viçosa, médico gastroenterologista, Alessandro Lisboa da Silva, afirmou ser impossível que em algum momento o novo coronavírus não chegue a Viçosa e que o principal é garantir que os hospitais tenham alguma chance no combate à doença.

Membro do COES (Centro de Operações de Emergência em Saúde), que assessora a prefeitura municipal para as decisões no combate ao Covid-19, o médico disse que, diante das condições da cidade no momento, não havia motivos para a não reabertura do comércio agora, já que a preparação para o combate da doença foi feita e em algum momento isso deveria ser realizado. Em entrevista por e-mail, ressaltou que a cidade não está isenta de riscos e que saberemos no futuro se a preparação foi o suficiente.

Repórter Guilherme de Carvalho Alves: Quais as consequências que a reabertura do comércio pode causar a Viçosa? Pode ocorrer um surto?

Alessandro Lisboa: O surto vai alcançar Viçosa em algum momento, simplesmente porque não existe como ficar isolado indefinidamente. O que precisamos garantir (e olha que o uso da palavra “garantir” nesses tempos está complicado) é que o surto venha com tamanho, velocidade e intensidade suficientemente pequenos para que o sistema de saúde consiga responder bem, evitando que pessoas com chance de sobreviver morram por falta de atendimento.

G.C.A: E quais riscos Viçosa e região correm neste momento?

Alessandro Lisboa: Observamos que existem restrições também nas cidades vizinhas e que essas prefeituras também estão colaborando com as restrições impostas ao comércio em Viçosa. Pode ser que isso atrase a chegada da doença aqui, mas, por mais restritiva que seja a barreira sanitária, em algum momento alguém já contaminado, mas ainda sem sintomas, vai passar e transmitir aqui. Inevitável. Então, reitero minha resposta anterior. A doença vai chegar. Esperamos que devagar o suficiente para conseguirmos atender a todos que precisarem. Então, se os moradores de Viçosa quiserem fazer alguma coisa para correr menos risco, que fiquem em casa se puderem, que usem máscaras em lugares públicos como já recomendado e que continuem praticando o distanciamento social.

G.C.A: Como a Associação Médica de Viçosa está encarando a abertura parcial do comércio? Era o momento ou o prefeito poderia ter esperado um pouco mais? Visto que alguns lugares do Brasil e do mundo que tentaram essa abertura tiveram que voltar atrás.

Alessandro Lisboa: As restrições impostas não foram colocadas de pé levianamente. Foram resultado de muito estudo e de muita reflexão, uma vez que as consequências, boas ou más, seriam grandes de qualquer maneira. Vejamos as opções que estavam na mesa:

1 – Não fazer nada e deixar a doença chegar no tempo dela. Nesse cenário, seriam tantas pessoas doentes ao mesmo tempo que a capacidade de atendimento do sistema de saúde seria ultrapassada por muito. E aí morreriam muitas pessoas que teriam chance de sobreviver por falta de atendimento. Coisa de 300 pessoas em Viçosa e região, segundo uma estimativa apresentada numa reunião do COES, o que é muita coisa para uma cidade do tamanho de Viçosa.

2 – Recomendar o distanciamento social associado às restrições de funcionamento do comércio que vocês já conhecem. Qual a vantagem disso? Reduzir a velocidade de contágio, dando tempo para que o sistema de saúde fosse preparado para o embate. E foram muitas as coisas feitas nesse tempo: 10 leitos de UTI novos e estruturação de enfermaria exclusiva para COVID19 (11 leitos, expansíveis até 37) no Hospital São João Batista (que atenderão os pacientes adultos); 4 leitos novos de UTI no Hospital São Sebastião (2 para crianças e 2 para gestantes), 7 leitos novos de enfermaria exclusiva para COVID-19 também no Hospital São Sebastião (para crianças e gestantes); criação de unidade ambulatorial exclusiva para COVID-19 no prédio da UAES, que funcionará como um pronto-atendimento respiratório; definição de protocolos de atendimento que serão aplicados em toda a rede de atendimento. Então, hoje, existe preparação do sistema de saúde, então temos alguma chance de aguentar o tranco.

A preparação foi suficiente? Vamos saber com o tempo.

Alessandro completou dizendo que se o argumento para interromper o funcionamento do comércio era dar tempo para que o sistema de saúde se preparasse para o embate, as medidas de preparação possíveis já foram feitas ou estão adiantadas. Ou seja, não há motivo para não relaxar as restrições.

Há riscos nesse processo? Claro que há. Mas em algum momento isso precisaria ser feito, uma vez que a epidemia somente terminará quando pessoas em quantidade suficiente adquirirem imunidade. E para isso acontecer, há necessidade de exposição. Exposição controlada. Velocidade de contágio controlada (na medida do possível). E a abertura do comércio proposta, em articulação com a Casa do Empresário, verdade seja dita, foi bastante cautelosa e gradual. E se for notado que a pressão sobre o sistema de saúde aumentou muito, ela poderá ser revista.

2 comentários sobre ““A doença vai chegar”, alerta presidente da Associação Médica de Viçosa

  1. Gostaria de saber Sôbre o Protolo, se está sendo administrado o medicamento o hidroxicloroquina , único que tenho informações e provas de cura. Se ñ, posso exigir no caso de contrair o vírus?

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    1. Bom dia! O hidroxicloroquina ainda não é aceito pelos órgãos mundiais e nacionais da saúde como medicamento para tratamento ou cura do novo coronavírus. O Brasil é o único país do mundo que tem comentado sobre o medicamento e feito alguns poucos testes. No entanto, o uso desse medicamento é ESTRITAMENTE PROIBIDO fora dos hospitais e de um acompanhamento médico por poder causar cegueira e outros danos a saúde ainda não estudados.

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