Dia dos Namorados: Histórias de amor em Viçosa

Por Alice Ruschel, estudante de Jornalismo da UFV

Danilo Santos, Rose Silva, Elen Tavares, Thiara e Antônio, Cecília e Custódio Martins. Todas essas pessoas têm algo em comum: o amor a celebrar com seus pares. Uns tiveram que se reinventar para comemorar, alguns casaram bem recentemente, outros mesmo em tão pouco tempo desenvolveram um grande amor e até mesmo há aqueles que acumulam décadas de união. O amor, seja qual tipo for, se desdobra de todas as formas, gêneros, tempos e também dificuldades. Por isso, neste dia dos namorados (12/06), o JV reuniu alguns casais de Viçosa para conversar sobre esse tema e mostrar que, mesmo em tempos tão complicados como a pandemia, existem histórias de amor inspiradoras e belas por aí. Confira as histórias abaixo:

Juntos por 7 décadas

Cecília Rosa Martins tinha 17 anos quando conheceu Custódio João Martins de 23 anos em uma baile na zona rural da cidade de Teixeiras. Os dois começaram a namorar por 2 anos, apaixonaram-se e meses depois se casaram, no dia 26 de setembro de 1945, há quase 75 anos.

Seu Custódio (97) e Dona Cecília (93) moram em Viçosa há 33 anos. E surpreendem com sua lucidez e saúde. (Foto: Arquivo Pessoal)

Eu ia nos bailes porque acompanhava meu amigo sanfoneiro. Eu cantava as músicas e ele tocava. Em um dos bailes, eu convidei a mãe de Cecília para dançar. E depois, na outra vez, ela chamou a filha dela. E assim começou o amor de lá pra cá.”, conta rindo Seu Custódio.

Hoje, com 97 anos, Seu Custódio ainda lembra que quem pediu a mão de Cecília foi o seu pai e só depois ele soube pela mãe de Cecília que ela tinha aceitado o pedido. Indagado se ele ficou feliz com a resposta ele conta:

Fiquei feliz demais da conta, sô. Eu tinha até uma música que eu cantava quando passava na frente da casa de Cecília chamada “Conquistei Cecília'”, disse e começou a cantarolar a música.

Conversando por telefone com Seu Custódio, pergunto o que ele mais gosta de sua esposa Cecília e ele acanhado diz “ah, tudo para mim dela tá bom. A beleza que a gente tinha, acabou, mas o amor e o respeito é o mesmo, ele fica.”

Helena conta que nos dias dos namorados, Seu Custódio sempre levava alguma “coisinha de comer” para agradar Dona Cecília. (Foto: Arquivo pessoal)

São 75 anos de muitas história e como definem “de muita confiança, cuidado e respeito”. Todos os dias sob o mesmo teto, na mesma cama. Dividindo os mesmos problemas, alegrias e dúvidas sobre a vida. Custódio e Cecília educaram 15 filhos, embora hoje sejam 10 vivos, e se tornaram referência também para 48 netos e 30 bisnetos!

Indagado qual é o segredo para um casamento tão duradouro e feliz como esse, Seu Custódio conta sorrindo “o segredo é confiança e a sorte que Deus nos dá em conservar aquilo”, conta sorrindo.

Helena Martins, uma das filhas do casal, diz que “os antigos não falam muito a palavra amor. Nós estamos acostumados a definir e relatar o amor. Eles expressam elas em ações. O amor de papai com a mamãe é o amor do cuidado e respeito.”

Comemoração matrimonial online

Danilo Santos é dentista na cidade de Viçosa e está junto com Cleiton Guimarães que é cerimonialista há 6 anos e moram juntos há 3 anos. Se conheceram de forma inusitada pelo Tinder: Danilo em Juiz de Fora e Cleiton em Viçosa. Se encontraram e desde então estão juntos.

Danilo e Cleiton pretendem realizar a cerimônia oficial ainda ano que vem quando a pandemia acabar. (Foto: Arquivo pessoal)

O casamento deles era ter acontecido no dia 16 de maio desse ano, porém em virtude da pandemia de coronavírus foi adiado. A ideia foi comemorar de forma online a celebração, mesmo não sendo a oficial.

Não queríamos deixar passar em branco essa data, porque no dia 16 de maio, completaríamos 6 anos que nos conhecemos. Por isso, organizamos uma celebração onde chamamos apenas os padrinhos, as damas e amigos próximos. O evento foi pelo zoom e contou com 42 pessoas no total!”, conta animado Danilo.

Foram 42 pessoas presentes no evento que foi realizado totalmente de forma online e descontraída. (Foto: Arquivo pessoal)

O evento durou cerca de duas horas e foi organizado por uma amiga próxima do casal. Segundo Danilo, a celebração foi bem simples, não teve altar e nem votos. No entanto, foi feita com carinho e teve até música ao vivo por uma das pessoas presentes.

Todos estavam lá sentados e curtindo, com suas bebidas de preferência. Houve uma leitura sobre o amor e nossa trajetória juntos. Queremos fazer tudo oficial ano que vem com os votos e tudo.”, complementa ele.

Casados por 3 anos

Casados desde 2017, Rose Silva e Naton Silva, colecionam apenas três anos juntos, mas de muito “companheirismo e empatia” como definem o relacionamento. Tudo começou quando o irmão de Rose falava constantemente nas reuniões de família sobre seu colega, Naton. A família, como não conhecia, apenas ouvia as histórias.

Nossa história é engraçada, porque meu irmão já falava muito sobre ele [Naton] em casa. E nós achávamos engraçado o nome dele, porque era diferente. Até que um dia, teve uma festa e o Naton estava lá e meu irmão apresentou ele para mim. Namoramos por 6 anos e depois nos casamos. Me interessei por ele desde a primeira vez que o vi.”, conta sorrindo Rose.

Segundo Rose, a única dificuldade que presenciam no relacionamento é o trabalho do marido que fica em outra cidade. Ela é professora de creches da rede pública para crianças de 0 a 3 anos, mas ele trabalha como agricultor na zona rural em Paula Cândido. Além disso, a rotina do casal mudou consideravelmente com a pandemia do coronavírus.

 Faz 2 meses que não vejo minha mãe. Antes da pandemia, nós saíamos praticamente todos os finais de semana, mas agora tivemos de ficar mais em casa por segurança.”, desabafa ela.

Amor como resistência

Elen Machado Tavares e Indi da Silva Lima, estão juntas a pouco tempo, mas segundo elas a conexão é tamanha que encobre até mesmo o tempo. Indi, descreve o que sentem uma pela outra como algo que “sentimos tomados por muitos sentimentos bons”.

Eu costumo brincar com a Indi que a forma como nos conhecemos foi bem inesperada. Nos conhecemos pelo Tinder e foi algo muito rápido. Eram 23h da noite quando demos match. Logo em seguinda, às 23h20 estávamos conversando pelo Instagram e 5 minutos depois ao trocar telefones, já migramos para o Whatsapp.”, explica Elen rindo.

Elen é gaúcha e professora do Departamento de Educação da UFV, enquanto Indi é carioca e psicanalista. Ambas vieram a Viçosa para trabalho e acabaram se conhecendo na cidade ao acaso pelo aplicativo de relacionamentos. Em momentos como esse de pandemia, elas estão realizando todo trabalho de forma remota e em casa.

A primeira vez que vi a Indi senti uma conexão muito incrível. Ela é uma pessoa que se eu visse em qualquer lugar ou tempo, eu teria me interessado por ela, independente de ser qualquer aplicativo. Até porque é recíproco isso né, amor?”, pergunta Elen sorrindo ao fundo do telefone para a namorada.

Indagada sobre suas impressões sobre o movimento LGBT e suas causas, Elen destaca o momento conturbado que o Brasil atravessa perante uma crise política e econômica, bem como complementa como se sente com isso.

O espaço que a comunidade LGBT ocupa é conquistado e, infelizmente, em nosso país precisamos estar constantemente reafirmando ele. Nós nos sentimos preocupadas e muito mais expostas à violência. O Brasil, por exemplo, é o pais mais transfóbico do mundo e isso prova de que as coisas não estão tranquilas. A sociedade nos acolhe como pessoas, mas sem acolher nossas relações. E a resistência é a evidência de que precisamos falar sobre todos os tipos de amor.”, ressalta Elen

 

14 anos de companheirismo

A história de amor de Thiara Klein e Antônio Bruzoni começou logo cedo na faculdade. Eles se conheceram na época que eram calouros na UFV. Ela, caloura de Comunicação Social e ele, de Ciências Contábeis. Em 2010, foram morar juntos em Rio Paranaíba quando Antônio passou em um concurso para professor de contábeis na UFV no campus de Rio Paranaíba.

Thiara conta que se interessaram um pelo outro desde o momento em que se viram. No terceiro encontro houve o pedido de namoro. Na foto, Thiara, à esquerda, e Antônio à direta, na formatura em 2009 na UFV. (Foto: Arquivo pessoal)

Em 2013, se casaram. E, em 2018, voltaram para Viçosa e agora em 2020 tiveram seu primeiro filho, o Davi, que nasceu durante a pandemia de coronavírus da cidade. São cerca de 14 anos de namoro e 7 anos de casados!

Nos conhecemos em 2005 por uma amiga em comum da engenharia elétrica! E foi no começo de março de 2006 que começamos a namorar. O que mais admiro nele é a disciplina e cuidado que ele tem com as pessoas“, conta Thiara, sorrindo.

Thiara conta que engravidou em julho de 2019. No começo de março desse ano, ela iria começar uma segunda graduação e por ordens da obstetra, teve de ter muitas precauções. Segundo ela, desde 12 de março começou a ficar apenas em casa e só seu marido saía para fazer compras.

Ela conta que seu filho Davi nasceu no dia 23 de março, um dia depois da implantação das barreiras sanitárias em Viçosa e confessa que ficou receosa com a pandemia.

Na madrugada de domingo para segunda, eu entrei em trabalho de parto. Não tínhamos máscara e nem nada ainda em casa e fomos apreensivos ao hospital. No entanto, o cuidado foi redobrado estando lá. Tive alta depois de 24h para evitar ficar no hospital. O Davi teve de ficar internado, tomando banho de luz. No hospital, todas as providências de segurança contra o vírus estavam sendo feitas. Na UTI neonatal, por exemplo, eles estavam fazendo escala para visitas. Só podia visitar uma vez por dia por 40 minutos por questão de proteção. Além disso, todos tinham que estar higienizados.”, relembra ela.

Em tempos de coronavírus, Thiara diz que eles evitam sair ao máximo de casa pela segurança do bebê. Eles pedem delivery e só saem quando Davi tem vacinas ou consultas agendadas.

Indagada sobre o tempo de relacionamento, Thiara conta que é preciso sempre se colocar no lugar do outro e não tentar achar alguém perfeito.

O segredo é não criar expectativas em seu companheiro. É preciso sempre se colocar no lugar do outro e não querer encontrar alguém todo perfeito. O principal é ter a noção que você terá que lidar com as diferenças da outra pessoa e partilhar os mesmos sonhos. O amor vai se transformando com o tempo e é preciso saber curtir as fases dele.”, finaliza.

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