Neta critica métodos adotados em tratamento da avó antes de seu falecimento

Por Guilherme Alves, estudante de Jornalismo da UFV.

Na última terça-feira, a Prefeitura Municipal de Viçosa noticiou sobre um possível óbito em decorrência da Covid-19, posteriormente negado, de uma senhora de 82 anos. A idosa estava sendo atendida no Hospital São Sebastião, e faleceu na tarde da última segunda-feira. Em contato com o Jornal de Viçosa na manhã de ontem, Rita Gonçalves, 28 anos, neta da senhora, disse que as informações e sintomas divulgados inicialmente pela PMV não eram verídicas, e reclamou do atendimento realizado pelo hospital, assim como a não assistência feita pela Vigilância Epidemiológica. Confira a nota enviada ao JV:

“Minha avó tinha quadro epilético, que se manifestou ainda jovem, e há mais ou menos 2/3 anos iniciou o alzheimer. Nos últimos dias ela esteve no hospital devido a algumas complicações. No dia 07/06 deu entrada na emergência com saturação chegando a 80%, retornou novamente no dia 11/06, e em ambos os dias com a saturação caindo. O hospital não demonstrou nenhuma suspeita de Covid-19, mesmo ela necessitando de oxigenação, e não ficou internada, mas em observação. Os medicamentos utilizados foram diazepam e 6 ampolas de anti-convulsivo.

Resultado: ela nunca mais “acordou”. Retornou para casa no mesmo dia e já não conseguia mais se alimentar, foi necessário retornar ao hospital para desbridar as feridas por lesões por repetição (escaras). Passou a noite internada e no dia seguinte introduziram a sonda para alimentação.

Nesse processo, foram feitos exames de sangue e urina, raio-x do tórax, ressonância e o resultado foi infecção urinária. Na segunda, dia 22/06, ela teve outra crise epilética, foi encaminhada ao hospital e faleceu entre 17h-17:30h. A médica nos informou que ela estava com quadro de febre, infecção generalizada, (choque séptico), hemorragia interna e sangramento interno pelas vias, levando a falência múltipla dos órgãos, e infelizmente veio a óbito. 

Inicialmente poderíamos fazer o velório de 2h no dia seguinte com caixão lacrado. Horas depois, quando meu tio, acompanhado do agente funerário, entrou em contato com o hospital para dar andamento na liberação do corpo, é que nos informaram a suspeita de Covid-19, a coleta do material para teste e voltaram atrás na questão do velório, ela iria diretamente para o sepultamento. 

Observações:
– Estamos extremamente ofendidos pelas notas e dados errôneos da prefeitura e com o atendimento do HSS. 
– Aceitamos todos os procedimentos que nos passaram, mas registramos um B.O.
– Mesmo com a suspeita de covid, a vigilância epidemiológica não entrou em contato conosco para passar os procedimentos que o restante da família deveria fazer.
– Não somos contrários às medidas adotadas por governadores e prefeitos, ao contrário, somos contra a flexibilização que vem sendo feita em um país que nem chegou a fazer quarenta/isolamento.
– A família não foi negligente, se houvesse sintomas visíveis de gripe teríamos informado ao hospital e solicitado o teste para a paciente e demais familiares.” – Rita Gonçalves.

Nota da Redação: O JV lamenta o ocorrido e se solidariza com os familiares e amigos da senhora, falecida na última segunda-feira.

Entramos em contato com a Prefeitura de Viçosa e, através da sua Assessoria de Comunicação, informou que os dados divulgados no dia 23 foram repassados oficialmente pelo hospital, e lamentou o ocorrido.

“A nota da PMV levou em conta dados fornecidos pelo documento oficial emitido pelo Hospital São Sebastião, onde consta que a paciente deu entrada. Este documento é elaborado pelo corpo médico do hospital e as informações contidas nele são de responsabilidade do próprio hospital. O laudo aponta a presença de sintomas que podem ser associados à Covid-19 e, por isso, a Secretaria Municipal de Saúde foi acionada para cumprir o protocolo de testagem, definido por notas técnicas do Ministério da Saúde. 

A realização dos testes não significa, automaticamente, que a paciente possui a doença. Seguindo o protocolo, o HSS notificou a Prefeitura sobre um óbito que apresentava sintomas que são enquadrados nos critérios obrigatórios para realização de teste. O resultado do teste no laboratório foi enviado para a Secretaria Municipal de Saúde na tarde desta quarta-feira e deu negativo.

Manifestamos nosso total respeito à família e reforçamos que não foram divulgadas informações de caráter pessoal da paciente. O procedimento da divulgação das informações segue o preceito da transparência preconizado pela OMS.” – Assessoria de Comunicação da Prefeitura.

Já a Vigilância Epidemiológica, acusada de não prestar a devida assistência, não se manifestou diretamente ao JV em relação ao caso, mas repassou à Prefeitura que “As equipes tentam contato com a família pelo telefone informado no documento enviado pelo HSS para a Secretaria de Saúde. O rastreamento epidemiológico feito pela Secretaria de Saúde, que informa sobre o que fazer (distanciamento, cuidados, etc.), é feito apenas após a confirmação de um caso da doença.”

Por fim, o Hospital São Sebastião, criticado pela neta da senhora, nos informou, através de uma nota oficial, que a instituição seguiu todas as recomendações preconizadas pelo Ministério da Saúde.

“Comunicamos que a paciente deu entrada no Pronto Socorro, sendo avaliada e cuidada no setor de sintomáticos respiratórios por apresentar quadro respiratório grave, evoluindo para óbito no próprio setor. Informamos que a instituição seguiu  todas as recomendações preconizadas pelo Ministério da Saúde, em relação a atendimento de pacientes sintomáticos respiratórios, em vigência da atual pandemia. Conforme o protocolo foi realizado coleta do material e encaminhado para análise. Recebemos o resultado do exame (RT-PCR) sendo não detectado vírus para covid-19, descartando o caso.” – Hospital São Sebastião.

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