O objetivo do projeto é entregar uma vacina de forma rápida, eficiente, com baixo custo e principalmente, escalonável. Confira!

Vacina desenvolvida na UFV para a Covid-19 pode estar pronta daqui a 2 anos

Por Alexandre Leite, estudante de Jornalismo da UFV

A UFV conta com um projeto para a produção de vacinas contra o vírus da Covid-19. Intitulado “Produção de quimeras vacinais contra o vírus SARS-CoV-2”, ele é coordenado pelo professor e pesquisador Sérgio Oliveira de Paula e pode entregar vacinas eficientes no combate ao vírus daqui a 2 anos.

O projeto tem a intenção de produzir três vacinas, sendo duas vivas atenuadas (compostas por microrganismos vivos, enfraquecidos em laboratório, incapazes de transmitir a doença, mas com capacidade de se multiplicar no organismo do hospedeiro e estimular uma resposta imune). Há ainda uma outra chamada de subunidade proteica, que utilizará apenas a proteína S do SARS-CoV-2, vírus da Covid-19.

Além disso, a vacina a ser produzida pela UFV vai se basear em uma contra a febre amarela, considerada uma das mais eficientes do mercado e na qual o Brasil possui um grande conhecimento na produção. Por esses motivos, o projeto da UFV promete entregar um resultado eficiente, de baixo custo e principalmente escalonável, ou seja, que possa ser produzida em larga escala para que toda a população tenha acesso.

Em entrevista ao Jornal de Viçosa, Sérgio explicou o motivo da produção de três vacinas e detalhou as etapas que serão percorridas desde o início das pesquisas até a produção, processo que pode levar cerca de 2 anos.

No entanto, Sérgio estipula que a população de Viçosa só esteja totalmente vacina daqui 3 ou 4 anos, já que segundo ele, mesmo que uma vacina eficaz fosse descoberta hoje, seria necessário realizar vários testes, a fim de garantir que a mesma não desenvolva nenhum efeito colateral agudo nos humanos e possa ser aplicada de forma segura. O que acaba demandando um tempo maior.

Confira a entrevista abaixo:

Jornal de Viçosa: Quais são as etapas da produção de uma vacina? Há um cronograma de desenvolvimento estabelecido?

Sérgio de Paula: Após realizar esse levantamento das estruturas virais, os tipos de coronavírus, que estão circulando no Brasil, iremos dar início às construções virais. Isso é um trabalho de engenharia genética, no qual iremos adicionar um pedaço do genoma do coronavírus no vírus febre amarela, e isso demora em média 12 meses. Após esse tempo, precisamos de um período para adaptar esse vírus ao ovo embrionário. Quando ocorrer a adaptação dele, testaremos a vacina em camundongo para ver se ela gerará uma resposta imune nele. Ao gerar uma resposta imune, passamos para humanos. Então, temos em média 12 a 15 meses para a construção dela. Depois serão mais 6 meses para realizar os testes em animais de laboratório, os camundongos. Após isso, podemos partir para os testes clínicos em humanos.

JV: Existem fases de testes também?

SP: Sim, a primeira fase destes teste são grupos de 20 a 50 pessoas para visualizar se a vacina vai desenvolver algum efeito colateral agudo, ou seja, a pessoa toma e já passa mal. Se a pessoa tomou e não desenvolveu nenhum efeito colateral, iremos para a segunda fase, em grupos vacinais maiores, com 1500 a 2000 pessoas. A gente busca um efeito colateral a longo prazo.

JV: Analisando o tempo que você disse, seriam quase 2 anos só para a produção e testagem da vacina então?

SP: Exatamente. Mesmo que descobríssemos hoje a vacina, teríamos uns 3 anos para produzir ela e estar vacinando a população. Mas é necessário ressaltar a importância de testar a vacina nos grupos mais novos, pois estes têm uma resposta imune mais rápida. Claro que seria estratégico vacinar os idosos primeiro, só que as respostas imunológicas deles são mais lentas e não tanto vigorosas. Deve-se vacinar os mais jovens, que convivem com os mais velhos, pois funcionam como uma muralha a eles. Esperamos uns 3 a 4 anos para a vacina eficiente estar pronta.

JV: Você disse sobre se uma pessoa tomar a vacina e passar mal, citando que a vacina tem traços de proteínas de ovos. Em relação às pessoas que tem alergia ao ovo, qual seria a estratégia?

SP: Nesse caso, as pessoas com alergia à proteína do ovo, teriam de tomar a outra com a proteína S.

JV: A eficácia dessa vacina citada seria a mesma da outra?

SP: Acreditamos que vacinas vivas tenham um padrão de respostas melhor que as mortas.

JV: E se a resposta da vacina proteica, proteína S não for tão boa? A pessoa vai estar desprotegida?

SP: Não. Porque existe algo chamado de imunidade de comunidade, quando algumas pessoas são indiretamente protegidas pela vacinação de outras, o que acaba beneficiando a saúde de toda a comunidade. Então, por exemplo, muitas pessoas dizem “Ah, eu não tomei vacina x e não peguei a doença”… Sim, em parte está certo, porque muitas pessoas em seu entorno tomaram e o vírus tentou atacar essas pessoas, mas foi parado. Essa é imunidade de comunidade, onde há uma cobertura vacinal maior.

JV: As vacinas têm o prazo de 3 anos. Enquanto ela não fica pronta existe alguma droga pra auxiliar no tratamento?

SP: Algumas drogas estão sendo testadas, inclusive são drogas que temos na rotina que estão funcionando muito bem para o tratamento. Por exemplo, alguns antirretrovirais que são utilizados pra tratar o HIV, que estão apresentando respostas muito boas. Só que essas drogas estão sendo usadas só em pacientes que estão entubados em estado muito grave. Há drogas que estão sendo testadas e respondendo muito bem, só que nós temos receio de comentar sobre isso e acabar negligenciando o isolamento, pois todo mundo está esperando um feedback positivo. Porém, ainda não há resposta preventiva ao coronavírus, apenas a de tratamento.

Esta matéria faz parte de um conjunto de outras que foram produzidas com base em entrevista coletiva com o Sérgio de Paula conduzida pelos repórteres do JV Alice Ruschel, Guilherme de Carvalho e Mateus Lima.

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