“O racismo é uma problemática que retira o valor e identidade de grupos humanos”, afirma Beatriz Gomes

Por Aline Gomes, estudante de Jornalismo da UFV

Não é segredo para ninguém que apesar de libertada, após a abolição da escravatura, a população negra do Brasil não teve acesso a direitos básicos como saúde, trabalho, educação e segurança. Isso fez com que os escravos libertos ocupassem áreas marginalizadas das cidades, dando origem às favelas e cortiços.

Ainda hoje, esses lugares sofrem com a falta de políticas públicas, o que contribui para a permanência da segregação racial no país. Em uma entrevista para o Pokas ideia, a Pedagoga e mestre em educação pela UFV Beatriz Gomes, destaca essa e outras questões sobre o racismo na cidade de Viçosa.

Imagem: Beatriz Gomes / arquivo pessoal.

Aline Gomes: Como você vê o Racismo?

Beatriz Gomes:Vejo o racismo enquanto um sistema complexo de hierarquização racial, construído minuciosamente na sociedade no intuito de definir relações de poder e supremacias. É uma problemática social que exclui, marginaliza, assassina, isola e retira o valor e identidade de grupos humanos. 

Aline Gomes: Você enxerga o racismo em Viçosa? Se sim, quais espaços mais se destacam?

Beatriz Gomes: Enxergo o racismo em Viçosa na distribuição geográfica, por exemplo, na qual brancos, ricos, constroem seus condomínios luxuosos, fechados e monitorados por segurança privada e PM, ao mesmo tempo em que a maioria negra reside em bairros afastados ou periféricos, quando já foi estampado em jornais da cidade uma capa com todos os assassinatos ocorridos no ano, sendo majoritariamente de pessoas negras, estampando também a violência que acomete a nossa população. Na UFV, onde a maior parcela de estudantes e professores são brancos, enquanto funcionários terceirizados ou em cargos de menor remuneração são ocupados por pessoas negras. Enxergo o racismo em Viçosa quando a presença de pessoas negras em determinadas lojas são questionadas, ignoradas ou perseguidas. Estes são alguns aspectos que posso apontar no momento. Tudo o que acabei de dizer vem do descaso que tiveram com o povo negro, não só durante a escravidão, mas também depois.

Aline Gomes: Houve algum momento em que você foi vítima?

Beatriz Gomes: Já, em diversas ocasiões. 

Aline Gomes: Na sua opinião, como devemos enfrentar o racismo?

Beatriz Gomes:A luta antirracista deve, primeiramente, sair das hashtags nas redes sociais e colocadas em plano prático. A valorização do trabalho do negro, respeito a sua cultura e identidade, não reforçar estereótipos racistas, humanizar nossas vidas e experiências. Buscar conhecimento sobre, sem usar a pessoa negra enquanto o único canal para alcançar essas informações, ir além, fazer suas próprias pesquisas sobre a luta antirracista. Respeitar os símbolos culturais, posicionar-se e ser coerente neste âmbito. 

Esta entrevista faz parte de uma série, feita pelo projeto Pokas Ideia, com personalidades negras de Viçosa: ativistas, políticos, servidores públicos, educadores, artistas, desportistas e outros, visando conhecer sua história e visão sobre o racismo.

A opinião do entrevistado não expressa o ponto de vista do Pokas Ideia, do Jornal de Viçosa, nem dos autores. Leia outras entrevistas em:

O Pokas Ideia é uma editoria que publica assuntos antirracistas no Jornal de Viçosa – projeto de extensão do curso de Jornalismo da UFV.

Editoria Pokas Ideia

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